quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Choque das Raças ou O Presidente Negro, Monteiro Lobato, 1926


Capa (sem indicação de autor) e folha de rosto da 1a. edição

(...)
Era Jim Roy na realidade um homem de immenso valor. Nascera fadado a altos destinos, com a marca dos conductores de povos impressa em todas as facetas da sua individualidade. Como organizador e meneur talvez superasse os mais famosos organizadores surgidos entre os brancos. A historia da humanidade pouco [sic] exemplos apresentava de uma efficiencia egual á sua. Consagrara-se desde muito joven á execução dum plano de genio, traçado nas linhas mestras com a mais perfeita comprehensão do material humano sobre que pretendia agir.

- Está-me lembrando o velho Moysés...

- Jim Roy conseguira o milagre da associação integral da população negra sob a bandeira dum partido politico cujas forças, collectadas por extensa cadeia de agentes districtaes, vinham, como fios telephonicos, ter á estação central da sua chefia suprema. Sempre sabias e constructoras, desciam suas instrucções, com autoridade de dogmas, sobre todas as cellulas da Associação Negra (era o nome do partido) e as fazia moverem-se como puros automatos. Esta abdicação, ou melhor, esta sujeição consciente e consentida de todas as vontades a uma vontade única, aperfeiçoara-se de tal modo, que no anno da tragedia a situação politica dos Estados Unidos passou de jacto a depender do leader negro.

- Passou a depender delle como? Pois não eram os negros apenas cem para duzentos milhões de brancos?

- Não se impaciente, senhor Ayrton. Temos que ir por partes. Disse eu que a situação politica da America passou a depender de Jim Roy e foi facto. Mas antes de lá chegarmos temos que fazer um rodeio politico. Gosta de politica, senhor Ayrton?
(...)

In Monteiro Lobato, O Choque das Raças ou O Presidente Negro. Romance americano do anno 2228. [1ª. edição] S. Paulo ; Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1926, p. 130-131.
Para saber mais:
http://lobato.globo.com/biblioteca_Geral.asp

Este blogueiro, cara leitora, associa-se ao regozijo geral e registra este texto do genial Monteiro Lobato, em seu romance "futurista", hoje na ordem do dia. Cremos que, além e talvez mais que um marco na superação do preconceito racial da sociedade americana, a eleição de Barack Hussein Obama II significa a escolha pela não continuidade do governo mais estreito, militarista e criminoso da história política americana recente. E o anseio por uma política de paz, interculturalidade e respeito pelas diferenças, quer interna quer externamente. Torcemos para que não se frustrem as expectativas criadas. Boa sorte, Presidente Obama! Boa sorte, Presidente Negro!

3 comentários:

Henrique Chaudon disse...

Caro Aníbal:
Obama está carregando sobre os ombros as esperanças de todo o planeta. Possa ele suportar o fardo e conseguir, de fato, algumas boas mudanças para todos nós. E ele tem pelo menos a vantagem de chegar com 220 anos de antecipação aos vaticínios de M. Lobato.
Grande abraço.

Parada pelo Caminho disse...

O antigo presidente dos EUA era uma topeira e nem se dava conta do Brasil. Este novo terá que ser mais visualizado pelos brancos do que pelos negros para conseguir reelição. Vai começar a encher o saco do Brasil quanto as descobertas do pré-sal e quanto ao nosso petróleo e quem sabe nossa água do aquífero Guarani e nossa Amazônia. Sugiro esperar para ver antes de rotulá-lo. Nosso pais e soberania em primeiro lugar. Ele irá pensar do mesmo jeito.

Ninah Ferri disse...

Parece um filme feito por eles, dentro de um filme feito por eles, dentro de um filme feito por eles. Um presidente negro, bonito de dar gosto, sorridente, inspirador. Como primeiro ato, golpeia Guantanamo. Como segundo, aprova tropas para o Afeganistão. Banho de água fria. Sensação incômoda, parece mesmo um filme. Abre daqui, endurece de lá, esperemos que esse filme nao acabe com algum assassinato. Nao gostaria de chorar a morte de mais uma chance de aquele povo ser simpático.