sábado, 23 de junho de 2007

Geir Campos e “A roda da fortuna”, de Wilson Martins

Hoje (23/6/2007), no caderno Idéias & Livros, p. 7, o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, traz a crítica de Wilson Martins, “A roda da fortuna”, com uma sugestiva ilustração de João Lampreia, em que é registrado o lançamento do livro Na contramão dos preconceitos estéticos da era dos extremos, de Israel Pedrosa, recentemente editado por Léo Christiano http://www.leochristiano.com.br/ .

O crítico, autor de uma das melhores obras de história do livro, da imprensa e da biblioteca publicadas em português, A palavra escrita, editada inicialmente pela Anhembi, em 1957, e após longo tempo fora das livrarias, reeditada, revista e atualizada, pela Editora Ática (com apoio da Fundação Biblioteca Nacional), e da História da inteligência brasileira, obra monumental em 7 volumes, Editora Cultrix (1976-1979), destaca em seu texto o que chama de “capítulo reivindicativo” de Israel Pedrosa, “A latência poética de Geir Campos (1924-1999)” (p. 117-177), para afirmar que o poeta “consagrado em vida pela crítica” está hoje “condenado ao silêncio”, com o “mesmo destino” do poeta Ribeiro Couto; segundo ele, Geir “por ser visto como esquerdista” e Couto “por ser visto como direitista”. Para Wilson Martins, a “roda da fortuna” segue “os critérios de julgamento na feira literária, nos quais a intenção polêmica, quando não caluniosa, toma o lugar dos vereditos objetivos e desinteressados.”

O belo ensaio de Israel Pedrosa continua o resgate da obra do poeta capixaba iniciada com a organização da Antologia Poética de Geir Campos (2003), editada também pela Léo Christiano, aprofundando e alargando a trilha aberta pelo livro A profissão do poeta & Carta ao livreiros do Brasil, lançado no ano anterior, organizado por Maria Lizete dos Santos e este neoblogueiro.

Sobre o tema da "roda da fortuna", um poema (do livro Metanáutica, in Antologia poética de Geir Campos, p. 261):

Questões de tempo

Quem perguntará por mim
quando a última passar
com seu facão?
Que mulher grave desfalecerá
vendo apagados meus olhos
na multidão?
Que homem de bem guardará
o adeus meu
seco na palma da mão?
Quem lembrará minha voz
coral ausente
em qualquer canção?
Quem se pagará a herança
inteira ou em pedaços
do meu indivisível coração?
E a quem a flor
de raiz em mim
fará os acenos do não?


Conheça mais de e sobre Geir Campos (e também de outros poetas) no excelente espaço virtual, criado por Luiz Fernando Proa, "Alma de Poeta":
http://www.almadepoeta.com/biblioteca/geircampos.htm

E nos diga, rara ou raro leitor, se se inclui, como Israel Pedrosa e nós, entre aqueles que perguntam por Geir e sua herança poética.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Galáxia de Gutenberg, no Primeira Fonte

É um espaço criado para dialogar com a leitora e o leitor do Primeira Fonte wwww.primeirafonte.com.br sobre livros que abordem, de qualquer ângulo ou disciplina, a cultura letrada moderna, um mundo que magistralmente McLuhan batizou de Galáxia de Gutenberg, e que se pode identificar também como a Cultura do Impresso. Isto incluirá falar de escrituras, leituras, leitores, editoras, livrarias e tudo o mais que compõe esse universo, ou melhor, essa galáxia, construída a partir da invenção da tecnologia de fabricação de tipos móveis de metal, em meados do século XV, por Johann Gensfleisch, dito, Gutenberg, de Mainz (Mogúncia), na Alemanha.

Gutenberg era um artesão de ligas metálicas que, com muito engenho e arte, além de pertinácia e empréstimos de financistas da época, conseguiu chegar à invenção da tipografia, então chamada escrita mecânica (feita sem o concurso da mão), recentemente, considerada a invenção mais influente dos últimos mil anos da história da Humanidade.

Para Herbert Marshall McLuhan a tecnologia da imprensa foi a base para a construção do mundo moderno. O título deste espaço é homenagem ao irreverente, iluminado e inovador comunicólogo canadense falecido no último dia do ano 1980, aos 69 anos.

Leia mais:
http://primeirafonte.com/index.php?option=com_content&task=archivecategory&id=48&Itemid=62

Manuel de Barros, O poeta, Pretexto e Palavras... e ainda o “processo de criação”.


O poeta

Vão dizer que não existo propriamente dito.
Que sou um ente de sílabas.
Vão dizer que eu tenho vocação pra ninguém.
Meu pai costumava me alertar:
Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som
das palavras
Ou é ninguém ou zoró.
Eu teria 13 anos.
De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que
se perdia nos longes da Bolívia
E veio uma iluminura em mim.
Foi a primeira iluminura.
Daí botei meu primeiro verso:
Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.
Mostrei a obra pra minha mãe.
A mãe falou:
Agora você vai ter que assumir as suas
irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens.


In Ensaios fotográficos, Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 47

Pretexto

O que eu gostaria de fazer é um livro sobre nada. Foi o que escreveu Flaubert a uma amiga em 1852. Li nas Cartas exemplares, organizadas por Duda Machado. Ali se vê que o nada de Flaubert não seria o nada existencial, o nada metafísico. Ele queria o livro que não tem quase tema e se sustente só pelo estilo. Mas o nada de meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc. etc. O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use o abandono por dentro e por fora.

In O livro sobre nada, Rio de Janeiro: Record, 3a. ed., 1997, p. 7.

Palavras

Veio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar de debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que a palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar de debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com a sua flauta de couro. O grilo feridava o silêncio. Os moradores do lugar se queixavam do grilo. Veio uma palavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram de debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim de lugar? Foram as palavras pois que desestruturam a linguagem. E não eu.


In Ensaios fotográficos, Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 57.


Qual é seu processo de criação?

Como quem lava no tanque dando porrada nas palavras. A escuma que restou no ralo vai ser boa para o começo. Depois é ir imitando os camaleões sendo pedra sendo lata sendo lesma. As palavras de nascer adubam-se de nós. Então no meio da coisa pode saltar uma clave ou um rato. Daí a gente tem que trabalhar. O horizonte fica longe que nem se vê. Um horizonte pardo como os curdos. Também faz parte desse processo desarrumar a cartilha. Seduz-me reaprender a errar a língua. Eis um ledo obcídio meu.

In Gramática expositiva do chão, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990, p. 314.

Esta seleção de textos de Manuel de Barros, que fiz com a Lizete, minha mulher, foi (quase) sem nenhum sentido além do puro prazer de ler... e escrever pra você, rara ou raro leitor.
Depois, se puder, vá direto aos livros. Tem lá muito mais.
Imagem (clique nela para ampliar):
Reprodução da capa da revista Poesia Sempre, nº 21, 2005, publicada pela Fundação Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro http://www.bn.br/ , com projeto grático de Victor Burton. Número dedicado à obra de Manuel de Barros, organizado por Luciano Trigo e Ana Cecília Martins.

A leitura e suas práticas no Brasil, por Gilberto Amado (em 1918)

(...)
Um livro! Uma campanha! Mas onde foi parar o teu juízo?
Em primeiro lugar, parece que esqueceste que o Brasil é um vasto país da América do Sul em cuja população existem ainda de oitenta e cinco a noventa por cento de analfabetos. Dos restantes quinze por cento que se supõe saber ler, pois não temos nenhuma estatística, demos cinco por cento para o interior e fiquemos com dez para as capitais, inclusive o Rio e S. Paulo. Espalham-se de Manaus a Porto Alegre, mantendo entre si um nexo afrouxado pela distância e pela falta de comunicações.

(...)
Considerando agora que destes dez por cento da população que vive nas capitais, dois terços não lêem senão jornais: são caixeiros, pequenos empregados, auxiliares, homens de vista curta, cuja atividade mental não transcende da estreiteza habitual das suas tarefas quotidianas, vemos que não resta senão um terço, que se compõe de funcionários públicos, jornalistas, políticos, advogados, médicos, engenheiros, comerciantes, agricultores, homens de negócios, o que se chama enfim as classes dirigentes do país, a minoria que governa ou, para falar mais pernosticamente – a elite.

Nessa elite é que se devem encontrar as centenas ou milhares de pessoas que lêem livros. Devo dizer-te que em geral lêem pedaços de livros, e de livros que os interessam, livros de a-propósito.

O deputado, por exemplo, tem que escrever na comissão de que faz parte na Câmara um parecer sobre o Crédito Agrícola. Vai à livraria e encomenda todos os livros que sobre o assunto já foram publicados na Bélgica, na França, ou traduzidos do alemão e do inglês.


Estende-os numa grande mesa e começa o trabalho. Quinze dias depois está pronto. Nele são citados quatrocentos e trinta e dois autores, segundo as indicações dos quatro volumes principais. O deputado recebe as felicitações dos colegas e os aplausos da imprensa, depois de lido o parecer, que é publicado com o retrato do autor em todo o país. Fecha depois os livros, coloca-os em bonitas estantes expostas ao olhar dos amigos e nunca mais os abre.

(...)
Leitura, atividade intelectual como a desse deputado que tomei para exemplo, é a da maioria da pequena parte da população que lê. É assim que faz toda a gente na pressão de uma tarefa imediata a cumprir, no desempenho angustioso de um propósito inadiável, leitura rápida, sumária, expedida.

E fora desta, os lazeres multiplicados da vida mortificante num clima exaustivo não lhes deixam tempo senão para jornais, livros leves, romances policiais, assuntos de aplicação fácil que não tomem a atenção toda. Uma obra de idéias dizendo com os problemas morais ou sociais que interessam à humanidade contemporânea, poderia atrair quando muito cinco leitores sinceros em todo o Brasil, (...)

Campanhas aqui, meu amigo, num meio destes, com tão poucas letras, por intermédio de livros, estás a ver que é impossível empreendê-las. (...)


Se uma empresa pudesse ser feita no Brasil pela palavra falada ou escrita o flagelo das secas não mais existiria no Ceará.

In “Dos homens chamados “práticos” e a sua influência no Brasil” (1918), Gilberto Amado, Grão de areia e estudos brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1948, Col. Obras de Gilberto Amado, vol. II, p. 132-135.

Trazemos a você, rara ou raro leitor, este registro sobre como era vista a situação da leitura e de suas práticas em nosso país, na chamada República Velha, a partir do olhar de um dos intelectuais brasileiros mais respeitados em seu tempo.

Passaram-se quase nove décadas. Houve mudanças – a maior talvez tenha sido a ampliação da escolarização da infância que reduziu bastante os índices de analfabetismo absoluto ou então o número de assessores parlamentares para poupar os deputados de preparem eles próprios seus pareceres – e permanências, como a formação de bibliografias e a leitura a-propósito, esta agora certamente feita com muito mais intensidade e cada vez menos nos livros e mais na Internet.

E a seca no Ceará, claro.

O que pensa disso? Faça o seu comentário.

Gilberto Amado (7/5/1887-27/8/1969) foi jornalista, professor, político, diplomata e escritor. Em 1915, foi eleito deputado federal por Sergipe. Nos últimos anos da República Velha, exerceu mandato no Senado, até encerrar-se a sua carreira política com a Revolução de 1930. Em 1934, iniciou sua carreira na diplomacia. Eleito em 3 de outubro de 1963 para a Academia Brasileira de Letras.
Mais informações:
http://www.academia.org.br/

terça-feira, 19 de junho de 2007

Guilherme Figueiredo, a leitura e a arte dramática

(...)
Xântias:
Então, qual a técnica de aprender a escrever?

Dioniso:
Ler.

Xântias:
Não é, então, escrevendo que se aprende a escrever?

Dioniso:
Não. É lendo. Vejo bem que você se assusta, e percebo porque. No mundo de imagens em que nossos olhos se atolam – a fotografia, a ilustração, o cinema, a história em quadrinhos, a televisão – ler palavras se torna cada vez mais enfadonho para a grande massa contempladora de histórias e ouvintes de rádio.

Os livros são grossos, cada página tem mais de duzentas palavras, mais de mil caracteres. É preciso conhecer a relação das palavras entre si, os seus múltiplos significados, o que o autor escondeu por detrás deles. É preciso transformar aquele aranzel de letras em cenas, cores, formas, sentimentos, sons, figuras, dentro da imaginação. É preciso resignar-se ao único prazer simultâneo à leitura, o fumo.

É preciso percorrer assim centenas de páginas, volta-las atrás para o requinte de reler, suspende-las para esmiuçar o dicionário, retoma-las quando a vida nos arranca de chofre de dentro delas.

Quem lia antes do advento de Edison, lia à luz do candeeiro e da vela. E eram tremendos leitores! Veja o quanto teve de ler Montaigne para escrever os Essais, e Dante para compor a Commedia, e Cervantes para gerar o Quijote... E Shakespeare, apesar de Ben Jonson dizer dele que conhecia little Latin and less Greek, quanto teve de mergulhar nos novelistas italianos através do Palace of Pleasure, nos seus contemporâneos de teatro, em Plutarco, em cronistas como Raphael Holinshed, em Chaucer, em tradutores ingleses...

Quem lê hoje assim, com todo o consumo de eletricidade em vez da chama na ponta dum pavio? Ler torna-se cada vez menos atual.

E no entanto, se você vai lidar com palavras, tem que conhece-las. São o seu instrumento de trabalho, como o torno do oleiro, a bigorna do ferreiro. Se você quer escrever, não tem outro remédio senão ler.
(...)


In Guilherme Figueiredo, Xântias. Oito diálogos sobre a criação dramática. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957, p. 31-33.


Apesar de ter sido publicado já há meio século, este livro do dramaturgo brasileiro, que viria a ter um irmão general na presidência do Brasil, não perdeu a atualidade, ao contrário. A obra, que se inspira num episódio da peça As rãs, de Aristófanes, quando Dioniso, acompanhado do escravo Xântias, desce ao inferno para “buscar os grandes poetas dramáticos da Grécia que, desaparecidos, fazem falta a Atenas”, e vai com ele dialogando sobre a arte teatral, certamente poderá ser lido com proveito não só pelos aprendizes da arte dramática como por qualquer um aspirante a escritor ou que simplesmente deseje conhecer mais sobre a arte da escritura. Entre seus diálogos estão: Por que escrever?; Ler; Escrever; Sobre o estilo e outros.

Guilherme Figueiredo (13/2/1915-24/5/1997) escreveu peças de grande sucesso como Um deus dormiu lá em casa (1949), A raposa e as uvas (1953), e o Tratado geral dos chatos (humor), um best-seller, além de poesia, romances e memórias.

Para saber mais:
Enciclopédia Itaú Cultural - Teatro
http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_biografia&cd_verbete=755

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Dedicatória, Mário Quintana

Quem foi que disse que eu escrevo para as elites?
Quem foi que disse que eu escrevo para o bas-fond?
Eu escrevo para a Maria de Todo o Dia.
Eu escrevo para o João Cara de Pão.
Para você, que está com este jornal na mão...
E de súbito descobre que a única novidade é a poesia,
O resto não passa de crônica policial – social – política.
E os jornais sempre proclamam que “a situação é crítica”!
Mas eu escrevo é para o João e a Maria.
Que quase sempre estão em situação crítica!
E por isso as minhas palavras são quotidianas como o pão nosso de cada dia.
E a minha poesia é natural e simples como a água bebida na concha da mão.

In A cor do invisível, Globo, 1989, p. 26.

Para quem se escreve é uma questão fundamental para qualquer escriba. Até, rara ou raro leitor, para este blogueiro neófito. Feliz foi o Mário Quintana que encontrou um belo caminho,,, fazendo felizes os seus leitores.

domingo, 17 de junho de 2007

Grupo Mônaco de Cultura faz 50 anos




Aos dezesseis dias de junho de 1957, às 12 horas, na sede da Livraria Ideal, à rua Visconde do Rio Branco, 239, presentes numerosos intelectuais, escritores e “sebistas” da Invicta, foi constituído, por proposta do Sr. Manoel Martins, concretizando velha aspiração dos homens de letras de Niterói, e dos donos da citada livraria, Silvestre e Emílio, o Grupo dos Amigos do Livro, que tem por finalidade precípua a difusão cultural por meio de palestras e bate-papos periódicos sobre coisas de cultura, inclusive a compra à vista ou a prazo, de maior ou menor quantidade de livros, novos ou usados. Para constar, lavrei a presente ata, que será assinada pelos presentes, na forma tradicional. Em Niterói, 16 de junho de 1957.

Esse foi o marco inicial de um grupo que se constituiu festiva e informalmente em torno dos livreiros, de origem italiana, Silvestre Mônaco e Emílio Petraglia, fundadores da Livraria Ideal, em Niterói, Rio de Janeiro, e que ontem, sábado, 16 de junho, sob a atual direção do filho de Silvestre, Carlos Mônaco, completou 50 anos de contínuas atividades.

O primeiro “presidente” do Grupo, que redigiu a ata de fundação, o advogado, jornalista e poeta Sávio Soares de Sousa, relembrou sua história em bela palestra, e a seguir autografou seu último livro O canibal arrependido, editado por Paulo Roberto Cecchetti.

Com a presença do atual “presidente”, Luís Antônio Pimentel, poeta, jornalista e “enciclopédia viva da cidade”, foi relembrado também o economista e poeta Juvenille Pereira, que sucedeu a Sávio em 1975, quando o Grupo passou a se chamar Grupo Mônaco de Cultura, e que se manteve na “presidência” até falecer, em 1978, quando foi sucedido pelo “presidente” atual.

As comemorações, que mereceram inclusive um livreto de 16 páginas, produzido por Márcia Queiroz Erthal (projeto gráfico) e Luiz Augusto Erthal (direção editorial), com apresentação de Márcia Pessanha, editado pela NitPress, com toda a programação e a crônica “Começou assim...”, de Sávio Soares de Souza, vão estender-se. Em 29 de junho será inaugurada na Biblioteca Estadual de Niterói a “Exposição Fotográfica e Registros Jornalísticos”, com o acervo de Carlos Mônaco, referentes aos 50 anos de atividades do grupo, quando Sávio Soares de Sousa proferirá palestra sobre "O Grupo Mônaco e sua importância no movimento cultural de Niterói". O evento conta com apoio de Glória Blauth (diretora da Biblioteca) e do Cenáculo Fluminense de História e Letras e tem como organizadoras Márcia Pessanha, Liane Arêas, Edel Costa e Lúcia Motta.

A trajetória do imigrante Silvestre Mônaco, de engraxate a livreiro, foi o fio condutor da construção da obra Livraria Ideal, do cordel à bibliofilia, da lavra deste neoblogueiro, editada por Pasárgada e EdUFF, em 1999, com capa e projeto gráfico de Cassiana Rangel, atualmente esgotado, mas que está em processo de reedição pela Edusp. O texto reproduzido acima está na p. 145.

sábado, 16 de junho de 2007

Serviço: Dicas e sugestões

É com alegria que oferecemos a você, rara ou raro leitor, um punhado de dicas e sugestões, dentre tantas possíveis:

Palestra no Rio de Janeiro, 29 de junho, 9:30
Roger Chartier: O que é um autor científico?
(em espanhol)
Auditório do Observatório Nacional
Inscrições: michele@mast.br

Visite o novo jornal
Primeira Fonte
http://www.primeirafonte.com/
Destaque para a matéria “A droga do amor é um barato”,
de Ana Laura Diniz e Esther Lúcio Bittencourt (você entenderá por que)

Conheça mais:

1. Visite o sítio virtual do
Museu da Língua Portuguesa Estação da Luz
http://www.estacaodaluz.org.br/
E, logo que possa, faça uma visita “real”. É extraordinário.

2. A história do livro escolar no Brasil. Visite o
Banco de Dados LIVRES
e tenha acesso à produção das diversas disciplinas escolares brasileiras desde o século XIX até hoje e muito mais.
http://paje.fe.usp.br/estrutura/livres/index.htm
Coordenação: Circe Maria Fernandes Bittencourt (FE/USP)

3. Visite o sítio Amigos do Livro e participe da enquête:
Escolha um livro de autor brasileiro "inesquecível"
http://www.amigosdolivro.com.br/home.php

4. Visite o sítio e blog:
Liter & Art
http://www.litereart.org.br/
http://litereartbrasil.blogspot.com/
Cultura, arte e uma agenda bem atualizada

5. Visite o blog do fotógrafo Sérgio Guida
Grafia in foto
Niterói (e o interior fluminense) captados com rara beleza
http://grafiainfoto.blogspot.com/

6. Acompanhe as atualizações do
Blog do Galeno
http://www.blogdogaleno.com.br/
O universo brasileiro do livro e da leitura

7. Acesse o blog e conheça a proposta da
Alfagrama Ediciones (Argentina)
http://alfagrama.blogspot.com/2007/04/historia-del-libro.html
Um espaço virtual (em castelhano) que navega pelo universo do livro com grande riqueza de informações e que tem uma proposta para autores.


E você, rara leitora, tem alguma sugestão ou dica para repassar?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

“Sem livros não há instrução”, Frei Veloso




Hoje: 196 anos da morte de Frei José Mariano da Conceição Veloso
(14-10-1741/13-6-1811)
O título acima foi o lema com que Frei Veloso desenvolveu seu trabalho de editor, em Lisboa, inclusive como responsável pela Casa Literária do Arco do Cego, de 1799 a 1801, sob a proteção de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Ministro da Marinha e do Ultramar, da rainha D. Maria I (mãe do futuro D. João VI). E foi também o título da exposição organizada pela Biblioteca Nacional, de Portugal, comemorativa do bi-centenário do Arco do Cego, para o qual se organizou um cuidado livro-catálogo com excelentes estudos sobre Frei Veloso e, especialmente, sobre seu trabalho à frente do Arco do Cego, assinados por Diogo Ramada Curto, Maria de Fátima Nunes e João Carlos Brigola, Margarida Ortigão Ramos Paes Leme, Manuela D. Domingos, Miguel F. Faria e Ana Paula Tudela, com o título A Casa Literária do Arco do Cego, editado pela Biblioteca Nacional e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, em 1999.

Miguel Faria, no estudo que dedica à importância das imagens nas edições do Arco do Cego, destaca (p. 120) que “a preocupação de fazer chegar ao maior número possível de leitores uma informação acessível e prática é visível nos comentários de Veloso”, quando cita a crítica deste ao “ócio literário” de autores cujas obras “jamais servirão para o conhecimento dos camponezes, como desconhecedores da linguagem em que são escriptas e apenas para algum rico proprietário”, o que fez com que se tenha dedicado tanto à tradução de obras “para que nada falte a estes homens úteis, que habitão os campos, e sustentão as Cidades”.

A bela edição Flora Fluminensis – Estudos preliminares, publicada, também em 1999, pelo Centro de Memória e Documentação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Governo do Estado do Rio de Janeiro, com apoio da FINEP e da Fundação Vitae, conta com estudos de Frei Thomaz Burgmeier, Haroldo C. de Lima e Darcy Damasceno, além das apresentações institucionais de André Corrêa, secretário de Estado, e Eduardo Portella, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, mas nela se destacam as reproduções das imagens da Flora Fluminensis - a obra maior do naturalista Frei Veloso - arrematadas em leilão da biblioteca dos Marqueses de Castelo Melhor, em 1879, e que foram incorporadas ao fundo precioso da Biblioteca Nacional, do Brasil.

No estudo “Frei José Mariano da Conceição Vellozo, naturalista e editor” o crítico Darcy Damasceno afirma (p. 25) que “há na atividade editorial de Frei Vellozo certa manifestação de incipiente sentimento nativista, que se percebe não só na titulação do enciclopédico O Fazendeiro do Brazil, mas, também, nas dedicatórias, introduções ou advertências dos vários volumes.”

Entendemos ser a Casa Literária Arco do Cego, vamos repetir, a primeira editora brasileira, em que pese estar sediada em Lisboa, e sobre isso certamente voltaremos a escrever, rara ou raro leitor que nos tem honrado com suas visitas e leituras.

sábado, 9 de junho de 2007

Noite de encantamento e arte com Israel Pedrosa

O Museu do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, teve uma belíssima reunião de artistas, intelectuais, professores, militares e estudantes em torno da figura de um de nossos artistas mais queridos e de mais relevo na arte contemporânea brasileira, Israel Pedrosa, na ocasião do lançamento de seu livro Na contramão dos preconceitos estéticos da era dos extremos, comemorativo de seu 80º aniversário.
O dia 31 de maio de 2007 certamente ficará na memória do Museu como um dia especial, assim como o será para todos os que compuseram o enorme grupo de amigos e admiradores do artista que ali se reuniram para ouvir a palestra de Israel Pedrosa, as leituras de Luzia de Maria e Katia Bretas, e receber seus autógrafos, como o da foto, dedicado ao astrônomo e poeta Ronaldo Rogério de Freitas Mourão.
A edição é da Leo Christiano Editorial www.leochristiano.com.br
Acesse o álbum de fotos do lançamento e experimente ver como "apresentação de slides" (a foto acima e as demais são de Samille Rodrigues Reis e têm direitos reservados): http://picasaweb.google.com.br/anibalbraganca/IsraelPedrosaLanAmentoDoLivroNaContramODosPreconceitosEstTicosDaEraDosExtremos

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Imprensa Régia ou Impressão Régia?


Ao aproximarem-se as comemorações dos 200 anos da instalação da primeira editora permanente no Brasil, vale trazer à discussão o seu nome. Muitas vezes vemos, até mesmo entre colegas pesquisadores, a referência a Imprensa Régia enquanto algumas vezes a indicação é Impressão Régia. Isso confunde o leitor. Qual terá sido o primeiro nome da Imprensa Nacional?

O decreto da sua criação (acima, clique na imagem para ampliar) está publicado, em fac-símile, no livro de Paulo Berger, A tipografia no Rio de Janeiro – Impressores bibliográficos, 1808-1900, editado pela Cia. Industrial de Papel Pirahy, em 1984, na p. VIII, e tem o seguinte texto:

Tendo-Me constado, que os Prélos, que se achão nesta Capital, erão os destinados para a Secretaria de Estado dos Negocios Estrangeiros, e da Guerra, e Attendendo á necessidade, que ha da Officina de Impressão nestes Meus Estados: Sou servido, que a Caza, onde elles se estabelecêrão, sirva interinamente de Impressão Regia [grifo meu], onde se imprimão exclusivamente toda a Legislação, e Papeis Diplomáticos, que emanarem de qualquer Repartição do Meu Real Serviço; e se possão imprimir todas, e quaesquer outras Obras; ficando interinamente pertencendo o seu governo, e administração á mesma Secretaria. Dom Rodrigo de Souza Coutinho, Do Meu Conselho de Estado, Ministro, e Secretario de Estado dos Negócios Estrangeiros, e da Guerra o tenha assim entendido, e procurara dar ao emprego da Officina a maior extensão, e lhe dará todas as Instrucções, e Ordens necessarias, e participará a este respeito a todas as Estações o que mais convier ao Meu Real Serviço. Palacio do Rio de Janeiro em treze de Maio de mil oitocentos e oito.

Com a Rubrica do PRINCIPE REGENTE, N. S.
Regist.
Na Impressão Regia.

No mesmo dia foi publicada pela Impressão Régia a sua primeira edição, um número do que poderíamos chamar um tipo de “diário oficial”, cuja página de rosto está também reproduzida em fac-símile no mesmo livro (p. IX):

Relação dos Despachos Publicados na Corte pelo expediente da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, e da Guerra no Faustissimo dia dos Annos de S. A. R. o PRINCIPE REGENTE N. S. E de todos os mais, que se tem expedido pela mesma Secretaria desde a feliz chegada de S. A. R. aos Estados do Brazil até o dito dia.

Dignos de nota, de passagem, para posterior retomada: o mesmo ministro Rodrigo de Souza Coutinho responsável direto pela criação da Impressão Régia do Rio de Janeiro foi o patrono das atividades editoriais do Frei José Mariano da Conceição Veloso, grande naturalista brasileiro e também notável editor, em Lisboa, inclusive na criação da Oficina Literária do Arco do Cego (1799-1801), que entendemos ser, de fato, a primeira editora brasileira de grande relevo, em que pese ter sido criada em Lisboa. A voltar a essas questões. A primeira tipografia criada no Brasil, como sabemos, foi a tipografia instalada em 1747, pelo editor António Isidoro da Fonseca, que teve curtíssima existência.

Voltando à questão inicial: a editora foi criada como IMPRESSÃO RÉGIA.

A historiadora Lúcia Bastos Pereira das Neves, da UERJ, autora do verbete “Impressão Régia” do Dicionário do Brasil Imperial, organizado por Ronaldo Vainfas, publicado em 2002 pela Objetiva, do Rio de Janeiro, registra que em 1818 o nome da Impressão Régia mudou para Typographia Real, depois para Typographia Régia (em 1820) e Typographia Nacional (em 1821). Após a Independência seu nome passou a ser Typographia Nacional e Imperial (1826) e ainda Typographia Nacional, de 1830 até 1885. A partir desta data seu nome passou a ser o que mantém até hoje: Imprensa Nacional.

Assim, que razão poderá ter o uso tão comum do nome inexistente de Imprensa Régia? Arrisco dizer que pode ser um anacronismo: o nome atual adaptado ao período do Príncipe Regente e (a seguir) rei D. João VI. Será isso?

Algum dia, rara ou raro leitor, já se defrontou com esta questão referente ao nome da primeira editora permanente no Brasil, que ano que vem irá completar seu bi-centenário de existência? Pensa, como eu, que está na hora de identificá-la sempre pelo seu verdadeiro nome? Faça seu comentário.

domingo, 3 de junho de 2007

A liberdade, o livro e a leitura, Fernando Pessoa

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro pra ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha quer não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca.

Em 16/3/1935. Publicado in Seara Nova, n.º 526, de 11-09-1937, incluído no livro Poesias, de Fernando Pessoa, "Cancioneiro" (a concluir a informação).

Este poema, rara ou raro leitor, já tantas vezes citado e inserido na "rede", me veio de novo à lembrança após a postagem do texto de A arte dos ociosos, de Hermann Hesse, abaixo. Pareceu-me haver um parentesco nesses textos de dois dos maiores escritores do século XX. Ambos cultivadores do amor à natureza, ao silêncio, à simplicidade. Do real à representação e desta à vida e à representação, num constante ir e vir, abrindo horizontes, aguçando sensibilidades e criando uma obra imortal.

sábado, 2 de junho de 2007

A leitura em A Arte dos Ociosos, Hermann Hesse

... Para que os possíveis artistas entre os leitores, em vez de se dedicarem metodicamente à prática do ócio, não se afastem decepcionados de mim, como de um charlatão, farei, a seguir, um resumo de minha primeira fase de aprendizado no templo dessa arte.

1. Certo dia fui apanhar, movido por um vago pressentimento, na biblioteca, as edições completas, em alemão, de As mil e uma noites e das Viagens de Sajed Batthal [épico persa medieval] e me enfronhei na leitura dessas obras, descobrindo, depois de um breve satisfação inicial e de um dia de leitura, que ambas eram enfadonhas.

2. Pensando sobre as causas dessa frustração, percebi, finalmente, que esses livros só podem ser lidos com prazer quando estamos deitados ou, pelo menos, sentados no chão. No Ocidente, a cadeira de espaldar vertical tira-lhes todo o efeito. Ao mesmo tempo pude, pela primeira vez, entender a perspectiva completamente modificada do espaço e dos objetos que se observa a partir da posição deitada ou acocorada.

3. Em breve descobri que o efeito do ambiente oriental era duas vezes mais poderoso quando, deixando a leitura, me tornava ouvinte (embora o narrador, neste caso, tivesse de se deitar ou acocorar).

4. A leitura, por mim daí por diante racionalmente praticada, deu-me um sentimento de resignação, de ouvinte, e em breve a condição de poder ficar, também sem a leitura, durante horas imóvel e dedicar minha atenção a objetos aparentemente sem importância (aerodinâmica do vôo dos mosquitos, rítmica das partículas de pó sob o efeito da luz solar, metódica das ondas luminosas etc.).

Com isso desenvolveu-se em mim uma crescente admiração pela pluralidade dos acontecimentos e um total, tranqüilizante olvido de meu ser, ponto de partida para que eu conseguisse habituar-me a um benéfico far niente, que nunca me entediou.

Trata-se, contudo, apenas de um começo. Outros irão escolher outros caminhos para, durante algumas horas, do estado consciente mergulhar no auto-esquecimento, tão necessário para um artista e tão difícil de ser alcançado.

Se minha experiência puder seduzir um eventual mestre do lazer, no Ocidente, a me explicar o seu sistema, ter-se-ia cumprido o meu mais acalentado desejo.

In A arte dos ociosos, tradução de Paul Schenetzer e Mathilde Latja, Rio de Janeiro, Record, s/d, p. 12-3. ISBN 85-1-008409-2

Este breve trecho do livro que Herman Hesse [2/7/1877-9/8/1962] apresentou [em 1932] como uma reunião de “artigos ocasionais – alegres, imaginosos e, às vezes, ligeiramente humorísticos – escritos intencionalmente na linguagem coloquial folhetinesca”, remete-nos à importância do estudo das práticas sociais de leitura e, mais ainda, à permanência das características das criações da cultura oral mesmo após serem transcritas para texto e difundidas em culturas letradas. E, por fim, mas não menos importante, para algo que temos, muitos de nós, rara ou raro leitor, esquecido, voluntária ou involuntariamente: a importância do cultivo do ócio para a criação artística e para o bem-viver. O que pensa você sobre isso?

Mais informações sobre o admirável escritor Prêmio Nobel de Literatura de 1946: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermann_Hesse

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Recepção Literária - I Concurso Literário FINEP

Palavra
Rodrigo Moraes Lima de Araújo Costa

O escritor famoso a descobriu, perdida; mas, distraído, a perdeu.
Enamorado de quantas outras palavras, encantado com astros, pessoas,
histórias, quimeras, sensações, relações, reflexões... ou silêncio,
ela escapa, sem que ele erija um altar em seu nome. (Desleixo?)
Mas não eu!

Armo-me de todos os sentidos, isolado de distrações e sentimentos.
Não vivo, nem sinto; só a busco:
apenas a palavra perfeita me basta!

Ei-la, onde ainda não a posso ver; mas a pressinto.
Ouço-a em meu peito: esguia, pulsante, vibrante, indecifrável... e cálida.
Sem sons ou fonemas ela existe, ela fala, ela cria, ela é.
No silêncio, com tudo rima, em tudo serve, a tudo atende.
Do que se veste? O que traduz? Como se diz?
Ela vive... sopra... transforma... desperta.
Seu ventre expia.. parametriza... dogmatiza... revela.
Eu a cerco... envolvo... seduzo... reduzo... adorno... conquisto.
E, suserano das letras, eu a submeto, aprisiono, paraliso, domino...

Mas a palavra que consome, corrói, expurga, plenifica, purifica, significa
simplesmente se despe e
nua se esvai,
travestida de qualquer palavra,
retornando ao mar
infinito
onde o verdadeiro poeta banha os pés.

E eu, aturdido,
(me) calo para ouvir a vida.

Acaba de vir à luz o livro Recepção Literária, editado pela Finep, com os textos premiados no I Concurso Literário Finep, nascido de um projeto de difusão da leitura de textos em domínio público, prosa e poesia, em forma de um volante distribuído nas recepções da empresa pública, promovido pela Biblioteca FINEP. O concurso interno abriu espaço para que os funcionários da empresa, dedicada ao desenvolvimento científico e tecnológico do país, pudessem expressar-se também em suas experiências com a arte da literatura. O volume ora editado evidencia que profissionais de áreas consideradas “duras” são também sensíveis na expressão artística da palavra, em prosa e verso. A este neoblogueiro coube a honraria de participar da comissão julgadora, ao lado do poeta Reinaldo Valinho Alvarez e de Tatiana Batista Alves, doutoranda em Literatura na UFF. E ainda de escrever o texto “Construindo pontes, ligando culturas”(*) para a apresentação do livro que será em breve lançado em tarde de autógrafos na sede da empresa, no Rio de Janeiro. A todos os premiados, além do Rodrigo, acima [1º lugar, em Poesia], Marcos Antonio da Cruz Barros (premiado em poesia e prosa), Evaldo Ferreira Cabral, André Chamun Calazans e Hermes Guimarães Honorato (poesia), Arthur Patitucci Filho, Rodrigo Moraes Lima de Araújo Costa (também com dupla premiação), Márcio Augusto Vicente de Carvalho e Luiz Eurípedes Ottoni de Menezes (prosa), e aos responsáveis pelo projeto e pela edição do livro, os merecidos aplausos, com os votos de que as sementes lançadas caiam em solo fértil e voltem a florescer.

(*) Para ler o texto acesse os arquivos do Grupo Cultura Letrada

http://groups.google.com/group/cultura-letrada
ou diretamente aqui:
http://cultura-letrada.googlegroups.com/web/AB%20Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20livro%20RECEP%C3%87%C3%83O%20LITER%C3%81RIA.pdf?gda=HqZBd3YAAACB61dDGjlvGiMjtw72o6fOmIeOIKBTET88AtDHcmkTI2G1qiJ7UbTIup-M2XPURDQ52RuWIVfN0Sxf2oGrkD5DjmPoGZNPrR3eJAGMKVPWhjmANpBJaYSx28ePdBl4L2yhqSHdTzzQ4o5QIEypP1y16oL5607V6aiT0M1fRAknYQ