quarta-feira, 9 de maio de 2007

Sobre as invenções humanas, de Francis Bacon (1561-1626)

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Digne-se o homem considerar a diferença infinita que se observa na maneira de viver entre os habitantes das partes mais civilizadas da Europa e os da região mais selvagem, mais bárbara do Novo Mundo; considerando bem esta diferença, sentiremos mais do que nunca que, se podemos dizer com certeza que tal homem é como um Deus com relação a outro, não é apenas por causa da ajuda que ele proporciona alguma vez aos seus semelhantes e dos benefícios que derrama sobre eles, senão também por causa das situações.

Porém, qual é a verdadeira causa que estabelece tão prodigiosa diferença? Não é certamente o clima, nem o solo, nem a constituição física, senão as artes, somente as artes, os conhecimentos.

Também é benéfico pousar o pensamento um instante sobre a sua força, sobre a surpreendente influência e conseqüências infinitas de certas invenções; o exemplo mais palpável e maravilhoso dessa influência, reside em três coisas desconhecidas para os antigos, que viram a luz humilde e silenciosamente: a imprensa, a pólvora e a bússola.

Estes três inventos modificaram a face do globo terrestre produzindo três grandes revoluções: a primeira nas letras, a segunda na arte militar e a terceira na navegação, revoluções que deram origem a infinidade de variações de toda espécie e cujo efeito foi tal que não há império, seita nem astro que pareça ter tido ascendente, que haja exercido influência tão grande sobre as coisas humanas.
(...)

Excerto de Novum organum - Interpretação da natureza e predomínio do homem [1620], de Francis Bacon, trad. de L. A. Fischer, Brasília Editora, s/d., p. 136-7, Biblioteca de Cultura Clássica, . Foi feita atualização ortográfica.

A obra integral está disponível na rede:
http://ich.ufpel.edu.br/economia/professores/nelson/metodecon/novum_organum.pdf
Informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon_(fil%C3%B3sofo)

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O registro do século XVII sobre as invenções que tiveram maiores repercussões sobre a história da humanidade até então, feito por um do mais importantes filósofos modernos, coloca a tipografia como a responsável pela grande revolução no campo das letras. Muito viria ainda a acontecer para confirmar o acerto da percepção de Francis Bacon.

Nós, que vivemos numa situação cultural em contraste com a da invenção de Gutenberg (a ver em Walter Benjamin), não devemos menosprezar sua importância.

O que acha você, rara ou raro leitor?

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