domingo, 6 de maio de 2007

Orhan Pamuk, Prêmio Nobel de Literatura 2006, sobre sua prática da escritura

Spiegel: Freqüentemente, o senhor fala sobre o trabalho de artesanato e paciência que é sua forma de escrever - como os pintores de miniaturas que o senhor retrata em seu livro Meu Nome é Vermelho.

Pamuk: Certamente vejo-me mais como artesão do que como artista. É claro, a criatividade e inspiração têm um papel. A verdadeira literatura é mais do que apenas uma história que alguém contou. Deve dar ao leitor a essência do mundo em um nível moral, filosófico e emocional. Eu tentei desenvolver essa verdade interior em todos os meus trabalhos. Mas sem a paciência e a habilidade de um artesão, até mesmo o maior talento é desperdiçado.

Spiegel: Quando o senhor é mais criativo?

Pamuk: Sou uma pessoa altamente disciplinada. Me levanto às 7h todo dia e, ainda de pijamas, sento-me à escrivaninha onde meus fichários e minha caneta tinteiro estão prontos para serem usados. Tento escrever duas páginas por dia. Alguns dias, estou tão ansioso para ler o trabalho do dia anterior, trabalhar nele e dar prosseguimento que prefiro beber um café frio a fazer um novo. Sentar ali, ler e reescrever são minhas atividades favoritas.

In Dieter Bednarz e Annette Grossbongard. “Entrevista com Orhan Pamuk – ‘Ninguém me leva ao exílio", em 03/05/2007, na revista alemã Der Spiegel.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2007/05/03/ult2682u445.jhtm (acessível a assinantes da Folha de S. Paulo e/ou do UOL).

Ferit Orhan Pamuk nasceu em Istambul (Turquia), a 7 de junho de 1952, no seio de uma família rica, estudou engenharia, arquitetura e jornalismo, fora do país. A partir de 1974, passou a dedicar-se à literatura. É considerado o maior romancista turco da atualidade, com obras traduzidas em mais de trinta idiomas. Livros editados no Brasil, pela Cia. das Letras: Meu nome é vermelho, Neve, Istambul - memória e cidade.

Surpreende-nos, rara ou raro leitor, que um escritor atual mantenha sua prática de escritura com caneta tinteiro! E faz-nos pensar no que é ser escritor o seu artesanato que tem como meta escrever duas páginas ao dia. Como isso pode nos ensinar sobre o escrever bem e a paciência, disciplina e perseverança que tal prática exige. Um exemplo a considerar.

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